terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Terpenos: O perfil aromático da Cannabis

Geralmente as pessoas atribuem ao THC, CBD e demais cannabinóides toda a responsabilidade pelos efeitos psicoativos e medicinais das flores da maconha. A maioria das pessoas acredita que é apenas a proporção de THC, CBD ou outros compostos exclusivos da cannabis que atuam no cérebro. Mas, na verdade, não é tão simples. Toda semente de maconha vendida em geral vem dizendo uma porcentagem de THC e CBD, no máximo de mais um ou outro cannabinóide, mas não falam nada a respeito do conteúdo de terpenos. Os terpenos são a maior parte da resina da cannabis, compondo entre 10 a 30% de todo o óleo essencial da planta.
Mas o que são terpenos? Os terpenos são as moléculas responsavéis pelo odor das plantas, ervas, frutas e todas as plantas que têm cheiro. Cada vegetal produz uma proporção e quantidade específica de terpenos, que lhes proporciona aroma e sabor característicos. Quimicamente, os terpenos são formados pela junção de unidades com 5 carbonos, ligados com 8 hidrogênios. Os terpenos podem ser compostos pela junção de 10 a 40 unidades de carbono-hidrogênio desse tipo. Na cannabis os terpenos são parte importante no processo de formação do THC e outros cannabinóides. Além disso, cada tipo de terpeno reage de uma maneira diferente com outras moléculas do corpo humano, provocando formas diferentes de absover os cannabinóides e, portanto, efeitos psicoativos e medicinais variados. Os terpenos também interagem entre si, formando moléculas variadas, com aromas diferentes, dando as famosas variações no cheiro e sabor das flores.

Na aromaterapia, os óleos essenciais, feitos a partir da resina de plantas aromáticas, são utilizados para acabar com a ansiedade, aliviar o stress, promover foco e concentração, dentre diversos outros usos. Quando os terapeutas vaporizam ou queimam essas essências estão, na verdade, administrando doses de terpenos.
A quantidade e tipos de terpenos produzidos pela planta de maconha pode variar de acordo não apenas com a genética, mas também com as condições de cultivo. Quantidade e qualidade de energia luminosa, circulação de ar, umidade, temperatura, meio de cultivo e nutrientes, todos são exemplos de fatores que podem determinar na produção dos terpenos, tanto quanto dos canabinóides e de outros fatores de crescimento da planta. Além disso, os terpenos tem umas oscilação bastante grande ao longo do dia. Os terpenos começam a ser produzidos quando o sol se põem (ou as lâmpadas da estufa se apagam), tendo seu pico máximo pouco dele nascer. Assim, durante toda a noite e madrugada, a planta produz mais odor, perfumando o jardim até o sol nascer. Ao longo do dia, diminuindo a produção de terpenos, que só é retomada quando sol se põem novamente.
Os terpenos podem atuar modulando os efeitos da cannabis no corpo humano de diferentes maneiras. Eles modificam a forma como o cérebro recebem os cannabinóides, tornando a absorção mais rápida ou mais lenta, e também prolongando ou encurtando a duração dos seus efeitos. Além disso, Dopamina e Serotonia, dois dos principais reguladores de humor naturais, produzidos pelo corpo humano, que também são responsavéis por diversas funções vitais, têm seus efeitos afetados pelos terpenos. Vale lembrar que os terpenos não estão apenas na cannabis, mas sim em todas as plantas aromáticas. Ou seja, os cheiros realmente mexem com os seres humanos de forma profunda e intensa, muito mais do que nos damos conta. Na maconha, essas influências são ainda mais intensas, pois estamos consumidos doses bem concentradas não apenas de cannabinóides psicoativos, mas de terpenos, e a cannabis é uma das plantas com maior concentração de terpenos também. Por isso, a partir de agora, não pense nos cheiros que existem por aí, ou nos aromas das flores de maconha, apenas como uma questão subjetiva. O aroma não afeta só seu humor porque ele é gostosinho, ele entra fundo no seu cérebro e modifica a forma como seu humor está a nível bioquímico. Portanto, é muito importante estudar os terpenos e procurar entender seus efeitos e formas de atuação, para poder planejar melhor os efeitos desejados. Aposto que a partir de hoje os cheiros de cada uma das variedades serão algo ainda mais encantador e atrativo para todos vocês. Espero que tenham gostado dessa colaboração!
Principais terpenos e seus efeitos:
As informações sobre os terpenos foram tiradas do excelente livro “Marijuana Growers HandBook” do renomado autor Ed Rosenthal.
MIRCENO
É o terpeno encontrado com maior frequência e maior quantidade na cannabis. É encontrado em grandes concentrações em plantas como lúpulo, capim-limão e mercia (de onde vem seu nome), além de muitas outras plantas, em menor concentração. O odor do mirceno é descrito muitas vezes como terroso, puxado ao cravo-da-índia, meio amargo e um pouco cítrico. É um potente antiinflamatório, analgésico e antibiótico. O mirceno também atua tornando a membrana do cérebro mais permeável, facilitando um efeito mais rápido dos cannabinóides. Mirceno é encontrado em grande quantidades em mangas bem maduras. Por isso se diz que comer mangas meia hora antes de fumar um aumenta o efeito. A explicação química é que você encharca o organismo de mirceno, tornando o cérebro mais permeável aos efeitos da maconha.
LIMONENO
Este terpeno é encontrado em frutas cítricas como limão, laranja, tangerina e muitas outras frutas e plantas. O odor do limoneno é bem comum a todos, especialmente aqueles que já ficaram do lado de alguém descascando uma laranja ou uma mexerica. Esta entre os 4 terpenos mais encontrados nas flores de maconha. O limoneno tem uma ação bactericida, fungicida e anti-cancerigena. O limoneno atua fazendo com que os efeitos da maconha cheguem de forma extremamente rápida, além de promover uma melhor absorção de outros terpenos pelo cérebro.
B-CARIOPHILENO
É encontrado em abundância no cravo (10-20%), pimenta de cheiro (15-25%) e algodão (15-25%), além de estar em menor concentração em muitas outras plantas, especialmente ervas e pimentas. O cheiro desse terpeno é pouco doce, amadeirado, apimentado, meio a cravo seco, com um toque cítrico adstringente. É usado pela indústria tabagista para acrescentar sabor ao fumo tratado. Consumido em grande quantidade o B-Cariophileno pode diminuir o excesso de pressão nos músculos do coração. Aplicado topicamente é um poderoso analgésico, responsável pelo sucesso de ação dos óleos à base de cravo. No cérebro age junto ao receptor CB2, o mesmo usado pelo CBD.
PINENO
É encontrado em grandes quantidades em plantas como o eucalipto, sálvia e no pinheiro, que lhe dá o nome. A resina dessas plantas possui grandes concentrações desse terpeno, que é conhecido como eficiente expectorante e quando usado de forma tópica, um poderoso antisséptico. O pineno entra rapidamente no cérebro e atua de uma forma muito especial, inibindo os processos químicos que podem destruir as moléculas maléficas, que tentam destruir as benéficas, que atuam transferindo informações no cérebro. Por isso muitas plantas que contém pineno são tradicionalmente chamadas de “Plantas de Memória”. Na cannabis, o cheiro do pineno é o que define se uma linhagem de maconha é ou não considerada um skunk. A fumaça do skunk é caracterizada por dar uma sensação de expandir os pulmões, e seu sabor inconfundível fica impregnado da boca aos pulmões por alguns minutos. O pineno tem como efeito principal um aumento na capacidade de foco, uma sensação de auto-satisfação maior, e um efeito energético. Porém, algumas variedades de skunk apresentam um efeito sedativo e calmante. Isso se deve a presença do TERPINEOL. O terpineol é encontrado na maioria das vezes em companhia do Pineno, o que faz com que na planta de maconha o terpineol tenha seu aroma escondido pelo do pineno, muito mais intenso, que acaba camuflando o cheiro do seu companheiro. O segredo é tentar selecionar uma planta que tenha o Pineno, mas que não tenha o terpineol. É difícil, mas dá pra achar!
TERPINEOL
Terpineol é um dos terpenos que se apresentam em menor quantidade tanto na planta da maconha como em outras. Ele tem um odor de maça, meio cítrico. Industrialmente se processam outros terpenos para a produção do terpineol para uso comercial em produtos variados. Em estudos com ratos ele reduziu a capacidade de coordenação motora em 45% das cobaias. É a ele que devemos atribuir o efeito “stoned”, ou petrificado, ou ainda o chamado “couch-lock”, que nos faz achar que estamos presos ao sofá, imobilizados. Muitos desses efeitos do terpineol são contrabalançados pelos efeitos do pineno, já que quase sempre são encontrados juntos.
BORNEOL
É um terpeno encontrado também em quantidades menores dos que outros e comercialmente também é obtido através do processamento de outros terpenos. Tem um odor semelhante à cânfora e menta e é encontrado em plantas como a artemisia, usada para fazer a bebida absinto. Na medicina tradicional chinesa é recomendada como um calmante, sedativo, indicado para o stress e recuperação de fadiga.
DELTA-3-CARENO
Tem um odor doce pungente, encontrado em grandes quantidades na resina do pinheiro e do cedro, e em outras plantas também. Na aromaterapia plantas ricas neste terpeno são usadas para tratar enfermidades relacionados com o excesso de fluídos. Na maconha ela contribui com o efeito de olhos e boca desidratados.
LINALOL
É um odor doce, com toques apimentados, muito encontrado na lavanda e no lírio. Tem sido experimentado em estudos para o tratamento de cancer. Tem comprovado efeito sedativo, testado em estudo com humanos que inalaram o linalol e descreveram estes efeitos. Em cobaias ratos diminui as atividades motoras em 75% dos casos.
CINEOLE
Tem um odor de menta-cânfora e é encontrado em muitas plantas aromáticas, mas em quantidades muito baixas na maconha. Ele atua aumentando a circulação e diminuindo a dor, dentre outros efeitos.
PULEGONE
Também tem um odor de menta-cânfora, como outros terpenos e é muito usado na indústria de doses, para dar o sabor das balas e guloseimas. Pulegone é encontrado em quantidades extremamente baixas na maconha. Em dosagens extremamente elevadas, por períodos prolongados, este terpeno pode fazer mal à saúde.
+Info: Publicado também no blog parceiro Hempadão e na última edição da Revista Maconha Brasil.

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