Por Sergio Vidal, autor do livro Cannabis Medicinal introdução ao Cultivo
"Bom dia hempada. Salve aê! Caro Sergio Vidal.
Estou iniciando minha 3ª semana de cultivo em minha estufa e já estou preocupado com duas coisas: uma é o momento certo para fazer o transbordo das plantas para um vaso maior. No momento estão em copos descartáveis de 200ml e o próximo será um vaso de 1,7 litros. A segunda é que me deixa com mais dúvidas, é com relação ao momento certo de trocar a lâmpada e iniciar a simulação de 12h/12h para início da floração. Minhas dúvidas seriam mais simples de responder se eu não tivesse optado por experimentar cinco espécies diferentes ao mesmo tempo. O problema todo é que cada espécie tem um tamanho e período de florescimento diferentes.
Eu tenho a Skunk #1 (8-10 semanas), Top 44 (6-8 semanas), a Big Bud (8-9 semans), também a Master Kush (10-12 semanas) e por última a Northern Lights x Skunk#1 (7-9 semanas).
Isso pode ser considerado um problema? Qual critério devo seguir?
Forte abraço a todos do Hempadão. Estamos juntos por essa luta.
Jah Guide.”
Obrigado por sua mensagem. Respondendo de forma simplificada à sua questão: Não é um problema, desde que você tome alguns cuidados. Se você ficar atento e levar esse fator em consideração no planejamento do cultivo, não há com o que se preocupar. De fato, as plantas de cannabis podem variar bastante não apenas na estrutura das flores, mas da planta em si. Algumas têm maior tendência a serem baixas e crescerem num ritmo menor. Outras crescem bastante, dando muito trabalho para serem domadas, muitas vezes ocupando um grande espaço por planta.
De modo geral, podemos dizer que plantas com predominância sativa têm um porte maior que plantas indica, por isso, irão crescer mais num menor intervalo de tempo. Plantas sativa também têm tendência a continuarem crescendo bem, mesmo durante as primeiras semanas da floração, o que não ocorre com a maioria das indicas. Esse fator deve ser levado em consideração na hora de decidir qual o momento colocá-las em regime de 12hs de luz e 12hs de escuridão total por dia, principalmente se a estufa não for muito alta, ou se você usar lâmpadas fluorescentes durante a floração. A luz emitida pelas lâmpadas fluorescentes têm um poder de penetração muito menor do que a emitida por lâmpadas de vapor metálico ou sódio. Por isso, ao usar fluorescentes é importante também florir as plantas ainda pequenas, logo que possível.
Aproveito aqui para responder sua dúvida a respeito do tamanho do vaso e o momento certo para fazer o transplante. Bom, não existe uma regra muito rígida, mas, de modo geral, o crescimento das plantas é influenciado também pelo tamanho do vaso, ou pelo espaço que a planta tem para fazer crescer suas raízes. Caso queira ou precise controlar o crescimento de uma planta, pode mantê-la o máximo possível num vaso antes de transplantá-la. Quando as raízes estiverem saindo pelo fundo do vaso, é sinal de que está na hora de mudá-la para um lar mais espaçoso. Plantas que estão sofrendo com falta de espaço para as raízes também podem apresentar folhas atrofiadas, retorcidas em forma de garras, o que também é um sintoma de excesso de água/falta de oxigênio para as raízes. Em geral, se aconselha usar cerca de 2 a 4 litros de solo, para cada mês de crescimento da planta.
Ter plantas de muitos tipos diferentes numa mesma estufa também requer sensibilidade na hora de nutrir e hidratar as plantas, pois cada linhagem tem um ritmo metabólico especifico, e uma necessidade água e alimentos também bastante singular. Por isso, muitos cultivadores comerciais preferem se especializar em apenas 1 ou poucas variedades, para garantir que irão extrair o máximo do seu potencial genético.
O momento exato ao qual deve ser iniciado o regime de floração depende das preferências de cada cultivador, respeitando os fatores limitantes como altura da estufa, tipo de lâmpada, já citados, dentre outros. Como você está cultivando plantas de tipos diferentes, com características variadas, é legal tentar buscar um equilíbrio entre elas. Ou seja, algumas têm a floração bem rápida, e podem acabar rendendo poucas flores, caso sejam forçadas a iniciar muito cedo esse processo. Já outras têm uma floração mais demorada, e caso você demore muito para iniciar a floração, pode ser que elas crescem mais do que sua estufa aguenta, antes de estarem no ponto para colheita. Cabe buscar o bom senso entre esses fatores. Outro fator importante é que as plantas recebem luz de forma desigual, por estarem em partes diferentes da estufa, estando cada qual à uma distância singular da fonte de energia luminosa. Isso influencia no ritmo de crescimento da planta. O ideal é alternar as plantas de lugar, de modo a todas receberem taxas equivalentes de luz, para tornar o crescimento mais homogêneo possível.
No entanto, vale lembrar que, mesmo quando todas as sementes são do mesmo tipo de cannabis, cada planta é singular. Ou seja, cada espécime de cannabis de uma seleção de sementes têm características únicas e apenas alguns exemplares, dentre um grupo de indivíduos, irão apresentar características realmente excepcionais. O que quero dizer com isso é que apesar de ser muito bom ter diferentes tipo de maconha para provar sabores, aromas e efeitos, é importante fazer seleção doméstica, para que não seja necessário sempre ficar comprando sementes importadas, correndo riscos desnecessários.
Como já disse em semanas anteriores (leia aqui e aqui), a cannabis só floresce quando ela é colocada no chamado regime 12/12. Dessa forma, assim como é possível forçar a planta a entrar na floração, é possível força-la a manter-se no vegetativo. Com isso, podemos escolher dentre uma quantidade de plantas qual a melhor fêmea e preservar sua genética, mantendo-a num eterno vegetativo.
Quais as vantagens e desvantagens disso? Bom, usando o exemplo do leitor que enviou a mensagem. Ele está cultivando 5 tipos de plantas diferentes. Não sei quantas sementes de cada. Mas, para mim, o ideal é selecionar uma boa fêmea no mínimo entre um grupo de 10 plantas. Seleções históricas, como as que originaram plantas mundialmente famosas como a Skunk, ou a Super Silver Haze, são feitas com mais de 1.000 sementes de uma mesma linhagem. Ou seja, foram necessária mais de 1.000 plantas para que 1 desse origem a um espécime especial.
Meu conselho para os que estão iniciando um jardim é que façam questão de ter variedade no jardim, mas priorizem a qualidade. O que quero dizer com isso é que ter tipos diferentes de maconha, sendo todos eles oriundos de bons espécimes é algo trabalhoso. Então, qual a melhor forma de fazer isso? A melhor forma de explicar é dando um exemplo hipotético para ilustrar melhor o que estou dizendo:
Numa estufa o jardineiro Bob está plantando 20 espécimes, todos de Skunk #1, oriundos de sementes regulares, ou seja, com possibilidade de serem machos. Antes de colocá-los para florir, Bob vai retirar ao menos 1 muda de cada uma das plantas. Quanto mais mudas Bob tirar, melhor, para garantir que ele terá exemplares de todas as plantas originais, mesmo se algum dos clones não enraizar e vier a morrer. Apesar de fumar muita maconha, Bob vai se lembrar também de marcar todas as mudas, para não fazer confusão na hora de descartar as plantas que não for querer.
Bob agora tem 20 plantas iniciando a floração e pelos menos 20 clones, uma cópia de cada uma das suas plantas, marcadas como Skunk 1, Skunk 2, Skunk 3... até o 20. Bob vai manter as plantas na estufa de floração, e os clones numa estufa de vegetativo, com pelos menos 18hs de luz diária (alguma linhagens precisam de mais luz por dia para manterem-se no vegetativo sem florir).
Quando as plantas começarem a revelar seu sexo, Bob vai descartar todos os machos e suas cópias. Digamos então que ele tenha ficado com 15 fêmeas, e suas 15 cópias. Bob agora está com as plantas marcadas de 1 a 15. Quando colher todas as plantas, secá-las e começar a fumar, Bob saberá exatamente quais das 15 plantas foram as que ele considero com melhor gosto, aroma ou efeito.
Digamos que Bob tenha se apaixonado pelos fenótipos 3 e 7 do seu Skunk. Ele precisará então guardar apenas as cópias dessas plantas, mantê-las vegetando até que tenham galhos o suficientes de onde possam ser tiradas cópias. Daí em diante, Bob precisará apenas fazer cópias (clones/mudas), desses dois exemplares especiais e colocá-las para florir.
Na minha opinião, essa é a melhor forma de levar o cultivo pois se está permanentemente controlando a qualidade, buscando quais as melhores plantas dentre um tipo de maconha. Quando tiver selecionado quais seus melhores Skunks, Bob pode partir para a próxima seleção, com outro tipo de cannabis, para poder aumentar a variedade da sua estufa de plantas-mãe.
É claro que cada cultivador planeja e opera seu cultivo de acordo com suas preferências, mas, pessoalmente, acredito que essa seja uma forma das mais eficazes de garantir a qualidade máxima de cada variedade e também a variedade de sabores, aromas e efeitos. Dá muito trabalho, mas o resultado vale a pena.
+info: Originalmente publicado no blog parceiro Hempadão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui sua opinião!