por Sergio Vidal
Escolhendo um tipo de semente
Atualmente existem milhares de variedades de cannabis disponíveis no mercado legal de sementes. É possível encontrar híbridos adaptados às mais diferentes condições climáticas. Ao escolher qual variedade irá crescer no seu jardim, procure optar por linhagens de criadores que sejam bem estabelecidos na comunidade e que estejam dentro do mercado legal. Porém, o que determina qual tipo de planta será usada é qual a doença ou sintoma será tratado e o perfil de fitocanabinóides adequado, já que cada planta produz um tipo de resina medicinal.
O tamanho das semente pode variar muito, de acordo com a genética e, às vezes, isso poderá confundi-lo sobre sua saúde e aptidão para germinar. Sementes com genética mais indica tendem a ser menores e sativas maiores, mas isso é bastante variável também.
Passo 1 – Absorvendo umidade para germinar
Coloque as sementes num copo com água, ou as feche num recipiente com um papel toalha ou guardanapo bem umedecido. Não use algodão pois a radícula pode ficar presa e se machucar, caso deixe ela sair demais da semente, o que deve ser evitado a todo custo. Sempre que necessário, borrifar água com alguma frequência, para manter a umidade elevada, caso tenha optado por usar o papel ao invés de um copo com água apenas. O recipiente com o papel toalha e as sementes deve ficar em local protegido de luz direta e de temperaturas muito extremas. O ideal é algo em torno de 27 a 30 graus Celsius. Muito frio irá impedir o desenvolvimento radicular e a germinação da planta. Assim que a casca começar a se abrir e a radícula der o primeiro sinal de querer sair a semente deve ser posta num substrato preparado para germinação, para que possa começar enraizar da forma correta. É muito importante não deixar a radícula sair muito antes da semeadura para não prejudicar a germinação, o enraizamento ou o desenvolvimento do broto. Esse primeiro momento é apenas para hidratá-las, para que as sementes absorvam umidade necessária para inciarem o processo de germinação e enraizamento. É possível também apenas deixar as sementes, mergulhadas ou boiando na água, em um copo outro vasilhame, sem necessidade de papel toalha ou guardanapo, conforme falamos inicialmente.
Passo 2 – Substratos para germinação
Para germinar, tudo que a cannabis precisa é um substrato leve, com pouca matéria nutritiva e uma textura bem aerada para garantir a oxigenação e com isso um enraizamento saudável, água na medida correta e temperatura adequada. Nessa fase, a necessidade da planta por água e nutrientes ainda é muito pequena. A planta é como todo ser vivo: quanto maior seu tamanho e mais rápido seu crescimento, maior será sua necessidade de água e nutrientes. É preciso evitar o erro por excessos e ficar atento para não encharcar a planta com água e impedindo a oxigenação das raízes e matando-a afogada, ou fertilizar a planta muito pequena. Somente em cultivos em hidroponia ou usando substratos inertes é que a planta será fertilizada desde o começo da vida.
O substrato inicial pode ser composto em sua maior parte de material com textura aerada, como perlita, pó das fibras de coco, vermiculita, turfa etc, ou uma mistura de 2 ou mais desses substratos. Cerca de 80% do substrato pode ser inerte, para garantir uma boa oxigenação, e o restante húmus de minhoca, para garantir um pouco de nutriente para o desenvolvimento do broto.
Muitas pessoas acreditam que superalimentando a planta poderão fazer com que elas cresçam mais rápido ou produzam mais flores. No entanto, a cannabis tem um limite biológico natural para a quantidade de nutrientes e água que pode absorver, que depende diretamente . Somente conhecendo muito bem uma linhagem é possível saber as quantidade de nutrientes e água ideais, para mantê-las em padrões ótimos.
Enquanto ainda é um broto a planta pode ser mantida em um vaso menor, com substrato com pouca matéria nutritiva e posteriormente sendo transplantada para um caso maior, com um solo mais rico, no qual irá crescer durante a fase vegetativa. Cultivadores que optam por substratos inertes podem semear direto no ambiente definitivo, pois a quantidade de nutrientes é definida exclusivamente por fertilização e não tem relação com a composição do substrato.Para cultivadores iniciantes, a melhor forma de cuidar da planta é manter um regime regular de água e nutrientes, sempre em quantidades mínimas. Assim, ficará fácil identificar quando a planta apresenta alguma deficiência e “pede” por mais água ou algum nutriente específico, de acordo com o sintoma apresentado em suas folhas e caules.
Passo 3 – Germinação e enraizamento do broto
Quando germina, a cannabis usa a gravidade para se orientar e direcionar seu sistema radicular para baixo, aos poucos erguendo a casca da semente e por fim saindo do solo em busca de luz. Lentamente a casca se desprende e os cotilédones, se revelam para o mundo. Até aí, a planta é totalmente independente dos nutrientes do solo, pois os nutrientes que ela precisa para chegar até esse momento já traz consigo desde a semente. Após o cotilédones a cananbis abre seu primeiro par de folhas, em geral com 1 ponta, cada, em seguida outro par de folhas, com 3 pontas, depois com 5, 7, 9, 11 etc, de acordo com a genética da planta.
Quando chega ao primeiro par de folhas com 5 pontos pode ser considerada uma adolescente e começa então o período vegetativo, no qual o crescimento de folhas, galhos e o desenvolvimento das raízes se torna explosivo. A vida da planta passa então a ser regida pelos processos metabólicos que descrevo nos capítulos posteriores do livro. Suas necessidades aumentarão gradativamente e, dia a dia, a planta revelará ao cultivador como está seu ritmo de crescimento.
Ilustração: Livro Cannabis Medicinal introdução ao cultivo, pág.102.
A germinação é uma fase de crescimento no qual a planta ainda está frágil e muitas vezes precisa de ajuda para se manter. Abaixo são alguns dos problemas mais comuns dessa fase:
Luminosidade insuficiente
Quando recebe luz em quantidade suficiente para crescer com saúde a planta apresenta um curto intervalo entre um par de folhas e outro. Quando o broto se alonga demasiadamente antes de abrir um novo par de folhas é sinal de que está recebendo pouca luz. Nessas condições, a planta se espichará demais e quando abrir o primeiro par de folhas, pode tombar por que o caule não estará forte o suficiente para sustentá-la. Alguns cultivadores iniciantes têm a falsa impressão de que a planta está crescendo rápido por causa do vigor, mas na verdade ela pode apenas estar se alongando de forma incorreta com objetivo de procurar mais luz de maneira desesperada para garantir sua sobrevivência.
Excesso de água
A maior parte dos cultivadores iniciantes não consegue conter a impaciência e acabam regando a planta mais do que ela realmente necessita. Até o primeiro par de folhas a planta quase não bebe água. Não tem folhas para transpirar e ainda está desenvolvendo o sistema radicular para absorvê-la. O solo só deve receber mais água quando estiver realmente seco. Para se desenvolver com saúde as raízes precisam de um regime de irrigação no qual recebam uma boa dose de água e depois fiquem um período secando, até quase o limite. Excesso de água num solo com baixa drenagem pode provocar o apodrecimento da semente, impedindo-a de germinar ou pode matar o broto afogado. As raízes precisam de oxigênio para respirar e realizar os processos necessários para transformar nutrientes em energia. O excesso de umidade também pode provocar o apodrecimento das raízes e aumentar o risco de contaminação por fungos. Para prevenir é necessário além de controlar o volume de água na irrigação, utilizar substratos que proporcionem aeração ao solo como perlita, pó das fibras do coco etc.
Descanse a água encanada!
Água originada do sistema de fornecimento público sempre vem tratada com muito cloro, substância nociva à saúde das plantas. Em plantas grandes as doses de cloro podem não ser sentidas, mas em plantas pequenas, sim. Evite os efeitos tóxicos que podem prejudicar a saúde da planta de forma simples deixando o cloro volatilizar totalmente. Basta deixar sempre uma quantidade de água descansando no mínimo 24hs.
Excesso de nutrientes
Se o solo estiver bem preparado e com ao menos 20% de húmus de minhoca ou de outro tipo de material nutritivo de composição semelhante, não há necessidade de acrescentar nutrientes na dieta da planta pelo menos até os 30 a 40 primeiros dias. Apenas cultivadores que utilizam substratos 100% inertes ou hidroponia necessitam alimentar as plantas desde o início. Um bom solo orgânico é capaz de assegurar a maior parte das necessidades nutritivas da planta em suas primeiras semanas de vida.
Se a planta tiver mais nutrientes do que a sua capacidade e necessidade de absorvê-los terá dificuldade de absorver água, mesmo que ela esteja presente no solo e pode até perder água para o substrato, secando e ficando doente. Num vegetal ainda bebê isso pode ser fatal. Procure ter paciência e respeitar o ritmo da planta. É muito mais fácil identificar as deficiências e saná-las do que solucionar uma emergência de fertilização excessiva e ficar tratando suas consequências. Uma dose muito concentrada de nutrientes pode matar uma planta em poucas horas ou comprometer sua saúde para o resto da vida. No entanto, muitos cultivadores experientes preferem manter as plantas sempre em níveis extremos de nutrição, mesmo arriscando episódios de sobredosagem.
Oscilações de pH
A semente germinará saudável num pH médio de 6,5. É claro que isso varia um pouco de acordo com o tipo de cultivo, se é substrato orgânico, ou 100% inerte, ou hidroponia. Cultivos inerte e em hidroponia tendem a sustentar-se em índices mais ácidos que os cultivos em solo orgânico. É sempre bom medir o pH da água e/ou solo que serão usados na germinação. É muito importante que o pH seja sempre monitorado e corrigido para evitar problemas.
*Toda e qualquer prática relacionada com o uso ou cultivo de cannabis para fins medicinais só pode ser realizada com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
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