Essa semana retomamos a coluna, mas com uma pergunta que não tem a ver com o cultivo de maconha. Decidi respondê-la porque considero muito importante que todos possam ter acesso à informações seguras e realmente isentas a respeito da maconha, seus usos e usuários. E, para manter ocompromisso de não ser parcial ao falar sobre maconha, é preciso admitir que ela pode sim fazer mal à saúde e, inclusive, desencadear problemas psicológicos. A mensagem do leitor dessa semana nos ajudará muito a falar sobre esse tema.
“E aí, Sergio Vidal, tranquilo? Cara, to escrevendo este email porque estou passando por alguns "problemas" com relação ao uso de Maconha prensada, fumo a mais de 5 anos e de uns 10 meses pra cá meus sintomas mudaram muito quando fumo, após eu começar a fumar um baseado, depois de uns 20 minutos de puro prazer, tranquilidade e harmonia, tudo se transforma, e começo a ficar muito nervoso, meu corpo todo treme, meu coração acelera, sempre atucanado, meu cérebro fica muito confuso e fico com muita gagueira. Gostaria realmente de saber se você, ou alguém poderia me ajudar com alguma informação, já tentei ir a médicos e não obtenho respostas claras.
Pensei que pudesse ser alguma substância que estivesse no fumo, prensado, que está me fazendo mal, nunca tive contato direto com a flor da maconha, sempre maconha prensada de péssima a "razoável" qualidade. Todos falam pra eu abandonar a erva mas eu não quero, pois sempre me senti muito bem com ela. Fico extremamente agradecido se conseguir me ajudar em qualquer informação, acredito que tenham alguns outros casos como este por ai, e que nós nos informando melhor poderemos resolver estes desvios dos efeitos. Muito obrigado. Um grande abraço, e sucesso para todos! ”
Primeiro é preciso dizer que a maconha pode desencadear problemas psicológicos em pessoas que têm essa tendência ou que estão em uma situação específica de fragilidade e disposição para esses problemas. A maconha também pode provocar taquicardia, paranoia. Aliás, qualquer droga pode causar as chamadas “bad trips”, ou “viagens ruins”. A experiência pessoal com qualquer droga é guiada em geral por 3 fatores:
a) a "droga" em si — isto é, a ação farmacológica da substância incluindo a dosagem e a maneira pela qual ela é tomada (endovenosa, aspirada, fumada por via oral, etc.);
b) o set — isto é, o estado do indivíduo no momento do uso, incluindo sua estrutura de personalidade, suas condições psicológicas e físicas, suas expectativas;
c) o setting (cenário ou ambiente social) — isto é, o conjunto de fatores ligados ao contexto no qual a substância é tomada, o lugar, as companhias, a percepção social e os significados culturais atribuídos ao uso. (MacRae e Simões, 2000: 29).
Em outras palavras, não é apenas a ação farmacológica da substância que afeta a experiência subjetiva com alguma droga. Ou seja, é preciso estar muito bem de saúde, sem problemas pessoais, num ambiente agradável, etc, para poder controlar melhor as possibilidades de se ter uma boa experiência.
Além disso, existem diferentes estudos apontados que elevadas proporções de THC na cannabis tendem a gerar efeitos que poderiam ser classificados como “euforizantes”, “energéticos” ou “anti-depressivo”. O que, em algumas pessoas pode ser a gota d'água para sair de um quadro “normal” para um estado de super-excitação, ansiedade, paranoia. Por outro lado, o CBD, outro composto ativo da planta, tem propriedades anti-psicóticas, relaxantes.
Pessoalmente, indico a qualquer pessoa que tenha predisposição para problemas psicológicos a ter muito cuidado com o uso de maconha ou qualquer droga. No caso do leitor em questão está mais do que claro que suas experiências negativas não são apenas uma “bad trip”. “Bad trips” duram apenas uma viajem. Quando o problema persiste em todas as vezes que se fuma, é sinal de que é preciso procurar ajuda e dar um tempo com a maconha.
É difícil para as pessoas admitirem isso hoje em dia. Vivemos muitos anos de repressão, com todos exagerando grotescamente os efeitos negativos da maconha e fizemos um esforço tremendo para afirmar seus aspectos positivos e tentar tirar os exageros sobre os negativos. Porém, de fato, existem riscos no consumo de maconha e muitas pessoas não são compatíveis com o hábito de consumi-la. O melhor a fazer é respeito seu corpo, sua mente e seu atual estado pessoal e dar a si mesmo a oportunidade de ficar um tempo sem contato com a maconha. Procure um médico que não seja muito cabeça fechada e procure lhe falar com sinceridade sobre suas angústias sua atual situação. Se precisar, não hesite em nos escrever novamente.
Ah, só um alerta. Ainda bem que você nunca provou flores porque elas contém muito mais princípios ativos do que no fumo prensado, que tende a ter menos princípios ativos, pois eles se perdem com a deterioração da erva. O fumo prensado é péssimo para os pulmões, mas como têm menos princípios ativos, no caso de pessoas com problemas psicológicos, eles serão um “detonador de situações” menos eficaz.
Muito obrigado por ter mandado sua mensagem e espero ter ajudado a esclarecer suas dúvidas e com isso ajudado também outras pessoas! Mandem suas mensagens e fotos paracultivo@hempadao.com
Um abraço e até semana que vem!
+info: originalmente publicado no blog parceiro Hempadão, em maio de 2012
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