Por Sergio Vidal, autor do livro Cannabis Medicinal introdução ao Cultivo
Essa mensagem é de um camarada, querendo uma consultoria de como melhorar o cultivo dele, que é feito numa região árida do Ceará, numa pequena propriedade rural. Ele me enviou as fotos das suas plantas e me pediu conselhos do que está se passando e o que é possível fazer para melhorar a situação das suas filhotas. As fotos usadas para ilustrar as reflexões de hoje são desse cultivo.
Essa mensagem é de um camarada, querendo uma consultoria de como melhorar o cultivo dele, que é feito numa região árida do Ceará, numa pequena propriedade rural. Ele me enviou as fotos das suas plantas e me pediu conselhos do que está se passando e o que é possível fazer para melhorar a situação das suas filhotas. As fotos usadas para ilustrar as reflexões de hoje são desse cultivo.
Primeiro, é preciso explicar o que é um cultivo chamado “outdoor”. Antes de entrar propriamente nisso, precisamos lembrar que somente quando recebe 12 ou mais horas de escuridão total por dia a planta irá entender que é hora de florir. As plantas de maconha iniciam o processo de florescimento e produção de resina psicoativa quanto entendem que chegou o inverno e, portanto, que os dias estão se tornando mais curtos que as noites. Os cultivadores convencionaram que a maior produção de flores e resina se dá quando a planta recebe 12hs por dia de luz ininterruptas e 12hs de escuridão total, durante a floração. Porém, é possível florir plantas com 11, 10, até menos horas diárias de luz com incidência direta sobre as plantas. No entanto, estudos apontam que a maior produção de resina psicoativa e flores de fato ocorre quando a planta recebe 12hs por dia de luz.
Os cultivadores geralmente se referem a 3 tipos de cultivos, com relação ao aproveitamento da energia luminosa. São os chamados cultivos indoor, outdoor e “de janela”, no original “window grow”. O cultivo indoor é quando a iluminação é feita com lâmpadas. Nesses casos o cultivador constrói um jardim completo, com sistema de iluminação, refrigeração e circulação de ar, com o objetivo de simular todas as condições naturais da planta que será cultivada. Em cultivos desse tipo as plantas recebem as 12hs necessárias para produzir quantidade aproveitável de THC e outros princípios ativos. Os chamados cultivos outdoor, são aqueles cujas plantas ficam sob iluminação do Rei Sol, sem que haja qualquer obstáculo produzindo sombras, ou atrapalhando a absorção da energia luminosa. Em zonas rurais esse tipo de cultivo é mais comum, onde é possível achar áreas onde o sol possa incidir totalmente ao longo do dia, mesmo levando em consideração que a trajetória da sua luz é modifica a cada segundo, com o passar do dia, mudando o espaço que está sendo iluminado. Nas cidades é muito difícil conseguir um espaço para levar um cultivo outdoor de qualidade pois em algum momento do dia a sombra de algum prédio ou outra construção irá atrapalhar o contato das plantas com o sol. Claro que é possível cultivar cannabis com 4 horas de luz direta incidindo na planta (há quem consiga com até menos que isso), mas ela só irá revelar todo seu potencial genético sob as condições ideais, o que significa uma floração com 12hs de luz direta por dia. Ou com o máximo que for possível. Quando a planta não recebe a luz do sol ao longo de todo o dia, ficando apenas com poucas horas, é o chamado “cultivo de janela”, que pode render belas flores, mas cujos resultados jamais podem ser comparados com cultivos “indoor” ou “outdoor”. Em cultivos de janela é importante tentar complementar ao máximo o fotoperíodo de 12hs, para nutrir a planta com uma boa quantidade de energia luminosa. Assim, se a planta só receber 4hs de luz solar por dia o ideal é dar-lhe iluminação artificial suplementar durante o período que a luz do sol não a tocar. Mas é claro que isso exige uma dose extra de trabalho, que nem sempre é possível realizar.
Dito isso, espero ter ficado clara a importância de se dar à planta o máximo de luz possível para que ela possa nos brindar com o máximo do seu potencial natural de flores, resina e princípios ativos. Para florir plantas na natureza, seja em outdoor ou em cultivo de janela, é preciso dar-lhe o máximo de contato com o Rei Sol. Quando for escolher um local para o cultivo, é importante estar atento ao fato de se há montanhas, morros ou elevações por perto do local, que possam sombrear a área de plantio em algum momento do dia. É importante levar em consideração também que ao longo do ano a inclinação com que a luz do sol toca a terra se modifica e um morro que durante o verão pode não sombrear seu cultivo, no inverno pode se tornar um problema. Então, tudo isso é necessário de ser verificado.
Em cultivos usando o sol, as plantas ficam totalmente expostas à ação da natureza. Isso significa que elas irão se molhar, inclusive as flores, quando chover, o que aumentará o risco delas mofarem. Significa que estarão expostas a todos os tipos de pragas e predadores que se alimentem de vegetais, como equinos, caprinos, bovinos, roedores, etc. Se o cultivo for feito no quintal de casa é possível controlar melhor esses riscos. A construção de uma estufa de tela é uma solução muito boa. Além de proteger a planta do ataque de pragas e predadores, também camufla o jardim. É importante também sempre dar tratamento nas plantas com algum defensivo orgânico, como o óleo de neem, agindo de forma preventiva. O óleo de neem deve ser aplicado semanalmente durante toda a vida da planta, até a 4 semana de floração. No mercado especializado também se encontra produtos à base do princípio ativo do óleo de neem, muito eficazes para o extermínio de diferentes pragas.
Em algumas das fotos é possível ver que uma das plantas têm sinais de que estão sendo atacadas por algum inseto sugador de energia. Quando este tipo de ataque já está em estágio avançado as folhas das plantas começam a apresentar sinais de que sua energia está sendo sugada, com pontos amarelados e esbranquiçados na parte superior. Por isso é importante ao menos uma vez por semana verificar todas as folhas das plantas por baixo. Os insetos que sugam a energia das plantas vivem na parte debaixo das folhas. É na confortável sombra das folhas que esses vampiros se alojam para destruir o sonho de uma colheita perfeita. É preciso periodicamente conferir se não há nenhum tipo de manchas por baixo das folhas. No caso em questão hoje só posso falar genericamente porque não tenho como saber que tipo de praga está atacando sem uma foto macro da parte posterior de uma folha atacada.
No cultivo em questão as plantas estão apresentando sinais de falta de nutrientes, especialmente magnésio e nitrogênio. Durante toda a vida da planta ela consome diferentes nutrientes e alguns ela consome em uma quantidade especial, de acordo com a fase da vida. É importante procurar estudar esses detalhes da nutrição vegetal se quiser levar a planta ao seu potencial máximo. Para saber mais sobre isso sugiro consultar artigos antigos que escrevi sobre nutrição e pH (1 - 2).
O ideal era que as plantas das fotos tivessem sido transplantadas para o chão ainda durante a fase de crescimento, antes da floração. Assim suas raízes teriam crescido fortes, penetrando o máximo o solo em busca de água e nutrientes extra. Seria bom ter preparado o solo com muita matéria orgânica, especialmente húmus de minhoca, garantindo também que ao menos metade dele fosse composto por algum substrato aerado, como pó de coco ou perlita. Assim as raízes têm facilidade para penetrar fundo e crescer livremente. As plantas só crescem novas partes acima do solo quando já têm raízes que possam sustentá-las. Se essas plantas estivessem fincada diretamente no solo certamente elas estariam muito mais saudáveis e teria crescido mais e produzido mais flores.
Dito isso, acho que resta apenas deixar a forma mais simples para pessoas que estão se iniciando na arte do cultivo para adicionar os nutrientes que estão faltando na dieta das plantas em questão. O magnésio pode ser encontrado num laxante vendido nas farmácias sob o nome comercial de “sal amargo” ou sulfato de magnésio. Não deve ser confundido com cloreto de magnésio. Pode ser aplicado na proporção de 10gramas por litro de água, 1 vez por semana, lembrando que cada planta reage de uma forma, algumas precisando de doses menores, outras de doses maiores.
Para adicionar nitrogênio e microelementos de forma segura, orgânica e barata é possível misturar húmus de minhoca na água e deixar oxigenando por pelo menos 8hs com um compressor de ar ou bomba de aquário. O “chá de húmus”, como é conhecido popularmente, é usado por diversos cultivadores ao redor do planeta que fazem suas próprias receitas, diversificando a maneira de oxigenar a misturar e principalmente os ingredientes que vão no chá. Alguns usam apenas húmus de minhoca, outros usam misturas de diferentes substratos. O segredo é procurar estudar a composição química de cada substrato e quais são os nutrientes que eles contém e em quais proporções, para poder dosar cada um deles na hora de preparar a poção mágica. O conselho para quem nunca fez o chá é procurar investir em uma bomba de aquário ou compresso eficiente, pois a quantidade de oxigênio faz toda diferença no processamento do chá, e começar usando apenas húmus de minhoca, antes de testar adicionar outros componentes à mistura. O chá pode ser usado diluído na água da rega, de acordo com a resposta das plantas. Usado com sabedoria dificilmente ele irá sobredosar a planta de nutrientes. Mas, como tudo, deve ser usado com cautela.
A última dica serve principalmente para cultivadores de exterior (outdoor), mas também serve para os que fazem indoor. A dieta das plantas deve conter também certa dose de cálcio. O calcário dolomítico é um produto barato, fácil de ser encontrado e que cumpre bem essa função. Além de cálcio ele também contém magnésio em sua composição. No caso do cultivo em questão eu adicionaria na próxima rega uma colher rasa de calcário para cada 3 litros de água. O ideal era que isso tivesse sido feito antes, algumas vezes ao longo da vida da planta e não agora, nas últimas semanas de vida, mas nunca é tarde.
Mais uma vez espero que tenham gostado do texto e, principalmente, que ele tenha ajudado a esclarecer mais a respeito da natureza da cannabis e do seu cultivo. Enviem suas mensagens, críticas, etc e, principalmente as dúvidas, preferencialmente com fotos, para o e-mail:hempadao@gmail.com
+info: publicado originalmente no blog parceiro Hempadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui sua opinião!