terça-feira, 9 de outubro de 2007

Conspiração Mandra: Meu vizinho jogou uma semente no meu quintal

Zé Celso, nuzinho da Silva, pelas lentes da verdade: "Eu sou cardíaco!"

Enviado por Marcus Andrey, ou Mandrey,

"O povo está ansioso para se educar, para fumar maconha à vontade. Para mim, é fundamental discutir a liberalização das drogas. Maconha pode trazer saúde, mas isso não é discutido. Ela é um vasodilatador e, para mim que sou cardíaco, é fundamental". A polêmica declaração foi feita por um velhinho de 70 anos chamado Zé Celso Martinez Corrêa, que não se despiu apenas dos preconceitos quando concedeu a entrevista publicada ontem no Jornal do Commercio. O diretor da companhia Teatro Oficina Uzina Uzona estava literalmente nu para reacender o debate sobre a erva maldita.
O cigarro do capeta sempre foi cantado em verso e prosa na MPB - até por Chico Buarque, diga-se de passagem - disfarçado numa dubiedade de palavras ( O que será que será?) ou citado discretamente no meio de uma estrofe (Carioca). Mas foi o maconheiro assumido Marcelo D2 que popularizou o escancaro coletivo, fazendo a cabeça do povo underground com letras apológicas que causaram verdadeira agressão social à instituição "Família".
Quando a banda Planet Hemp ("planeta maconha", vejam só que discrição) surgiu, eu era estudante de jornalismo (uêpa!) mas nunca tinha visto um baseado (tampouco fumava de olhos fechados - já estou me prevenindo das brincadeiras dos leitores mais escrotos).
Lembro que em 1995 meu pai ganhou um som automotivo de presente, de uma namorada, e eu levei o velho chevette dourado dele para uma equipadora, para instalar o equipamento. Quando voltei pra casa, fui ensiná-lo a mexer no novíssimo toca-fitas. Ele sentou no banco do motorista e eu no do passageiro. Liguei o som e estava rolando exatamente o seguinte trecho da música: "Eu canto assim porque fumo maconha. Adivinhe quem tá de volta explorando a sua vergonha?". O som estava bem alto, por esquecimento do instalador, apregoando o hit do Planet Hemp pelos quatro auto-falantes.
Meu pai espantou-se e me inquiriu: "Que apologia é essa nessa fita?".
E eu: "é o rádio, é o rádio! não é fita".
O tempo passou, meu cabelo cresceu, botei um brinco na orelha esquerda e comecei a me vestir como um autêntico estudante de jornalismo - com direito a calça vermelha e bota de militar. Escutava Jorge Cabeleira, Paulo Francis Vai Pro Céu, Devotos do Ódio, O Rappa, Pato Fu, Mundo Livre S/A e Chico Science.
Naquela época comecei a namorar com uma colega de turma, filha da alta sociedade. Ela tinha um Corsa branco e compramos no Festival Abril Pro Rock um adesivo de um hippie fazendo o "V" da vitória, com a legenda "peace and love". O adesivo foi colado na lataria traseira do Corsa e, logo, chamou a atenção da família da "moça de família".
Um belo dia, estava eu exercitando a minha dominação de namorado quando a minha sogra disse que precisava falar um assunto sério conosco. Sacou da bolsa um patuá de fumo envolto num papel alumínio e acusou: "encontrei essa maconha no carro de vocês". Minha namorada ficou bege. Calmamente, olhei, peguei um galhinho, cheirei, botei contra o sol, examinei bem e respondi: "não é nossa de jeito nenhum. Envolvida assim, em papel alumínio, eu nunca vi".
Aí foi minha vez de questionar, perguntando como é que a minha sogra tinha arranjado um punhado de maconha - provavelmente adquirida numa boca-de-fumo, das mãos da própria bandidagem - e ainda assim plantar "provas falsas" contra a gente.
Ela respondeu que mandou comprar porque queria fazer um teste, pra saber se a gente admitia que fumava. A idéia da isca do papel alumínio havia sido provocada, semanas antes, por um comentário meu diante da relutância da minha sogra em deixar a filha ir ao Festival Abril Pro Rock. Ela falou, à época, que "esse festival está cheio de maconheiros" - ao que eu rebati, prontamente, que "também não é assim. Lá também tem bomconheiros". Dias depois, ela me aparece com o patuá.
Três anos se passaram e virei jornalista profissional. Depois, arrumei um emprego e (acho que) conquistei o respeito da minha sogra. Encaretei o visual tirando o brinco e cortando o cabelo, me tornei pai de família, mas nunca discriminei meus amigos bomconheiros apesar de saber que o crime deles ainda é considerado uma contravenção.
Hoje, 12 anos depois, vejo metade do Recife, pelos jornais, desfilando com bandeiras coloridas na Parada Gay mas acho que ninguém iria para um Movimento Cívico Pela Discriminalização da Maconha - no máximo, estariam por lá os "malucos de Woodstock", ajudando a reforçar o estereótipo de "doidão" que a sociedade rotulou. Os médicos, advogados, empresários, professores, economistas, sociólogos e outros cidadãos de bem que fumam maconha certamente não iriam se expor. Talvez um ou outro político do Partido Verde. E os jornais estampariam nas manchetes "BADERNA!", com fotos bem definidas para ajudar o serviço reservado da PM a mapear todos os "marginais".
Ri muito com a declaração de Zé Celso Martinez Corrêa. Ele não é nenhum modelo de "cidadão de bem", mhuahahahaha, mas é um excelente profissional naquilo que faz e por isso merece o nosso respeito. Eu poderia até fazer piada para terminar este texto com uma frase do Casseta e Planeta que diz "Eu fumo mas não trago. Quem traz é um fotógrafo amigo meu", mas nessas questões polêmicas envolvendo drogas prefiro sair de fininho e deixar o debate rolando aqui nos comentários dos internautas. Brasil, mostra a tua cara que eu já tou de cara faz tempo.

Um comentário:

  1. acho que é isso aí, a cannabis é uma planta muito poderosa que ajuda a mostrar a vida como ela é. linda, engraçada e cheia de problemas tambem. precisamos aprender a viver com os "caretas" e aos poucos mostrar pra eles a beleza da vida... mas com muito amor! sem imposiçao de pensamentos... nao podemos mudar ninguem.. só podemos apontar o caminho.

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