segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sobre Marcelo Freixo e oclofobia policial na USP


31/10/2011

Uma notícia estarrecedora se repete no Rio de Janeiro. O deputado Marcelo Freixo, o mais votado do estado, ex-presidente da CPI das milícias, é obrigado a sair do país por estar sob ameaças de morte do mesmo grupo que já assassinou a juíza Patrícia Acioli. Subsiste no aparelho policial brasileiro o que seja talvez a pior herança do período ditatorial, uma estrutura intocada, nunca reformada, militarizada, com foro privilegiado e com uma cultura de violência e corrupção oriunda nos baixos salários e formação oclofóbica.

A oclofobia é o horror à multidão. Quando se depara com uma multidão o policial militar já põe a mão numa bomba. A banalização do uso de armas química e balas “não-letais” que num país como a Inglaterra nem em situação de saques e incêndios generalizados foram empregadas faz com que no Brasil o desfile de tropas de choque a disparar a esmo nas ruas seja quase diário.

No que se refere ao crime na USP, pretexto para o uso da PM contra os estudantes, se sabe que a melhor proteção é a própria multidão. Em geral, não ocorrem crimes contra a pessoa ou contra o patrimônio a vista de todos em lugares bem iluminados e cheios de gente. Por isso, em lugares em que há fluxo de estudantes a presença policial ostensiva não é necessária, mas sim em lugares ermos ou em entradas e saídas da universidade. A PM na USP passou a adotar uma prática de policiamento sistemático contra os estudantes havendo inúmeros relatos de assédio contínuo em áreas de lazer e mesmo no interior de prédios.

O que é necessário não é que deixe de haver carros da PM circulando pelo campus verificando áreas identificadas como perigosas para crimes contra o patrimônio, mas sim que a polícia deixe de policiar a comunidade estudantil, invadindo centros acadêmicos ou jardins e gramados para revistar arbitrariamente as pessoas.

A polícia priorizar a repressão ao uso de maconha é errado por que isso faz da polícia uma espécie de patrulha de costumes, de força de policiamento que prioriza a ação anti-estudantil. Em breve poderão prender também as fotocopiadoras ou quem vender cerveja em festas sob pretextos legalistas? Se o objetivo maior deve ser a manutenção da paz e tranqüilidade social, a intervenção da polícia não deve ser o agente que venha justamente a provocar a ruptura dessa paz. Se houver consumo indevido de drogas ou de álcool que possa atrapalhar a terceiros ou a atividades didáticas cabe à própria comunidade universitária adotar regras e mecanismos de fiscalização delas que coíbam esse tipo de prática. Até mesmo um cigarro aceso em locais fechados é proibido e a comunidade deve, corretamente, buscar impedir quem acenda um cigarro não respeitando o interesse coletivo. Ou devemos deixar a PM resolver também esse tipo de coisa?

A melhor segurança é uma guarda universitária modelo, bem-equipada e não terceirizada. Ter uma guarda e uma vigilância terceirizadas compactua com trabalhos superexplorados e mal-qualificados e, acima de tudo, afasta os serviços de segurança da relação orgânica com a comunidade. Um guarda funcionário da universidade conhece melhor a comunidade e pode ajudar a dirimir problemas muito melhor assim como identificar as ameaças à segurança e constituir uma rede de grande inteligência, comunicação e confiança comunitária.

Com o episódio Marcelo Freixo, depois de tantos, espero que fique mais claro porque a comunidade universitária da USP prefere, no que segue uma antiga tradição de autonomia universitária, buscar resolver seus conflitos internos sem uso da polícia militar.

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