terça-feira, 16 de junho de 2009

Uma audiência histórica...

Na atualidade, é um absurdo negar a existência de pessoas que fumam maconha dentro das nossas famílias, ou no nosso círculo de amizades. E em muitas famílias e círculos de amigos elas não são poucas, tornando impossível que não nos sintamos obrigados a se envolver no debate sobre as políticas e leis que podem atingí-los diretamente e nos atingir também. É claro que uma parte dessas pessoas têm problemas com o uso de maconha e outras drogas. Mas a grande maioria dos usuários não têm problemas e buscam no uso de maconha prazer, não o sofrimento, e as consome apenas em contextos e circunstâncias que não atrapalhem outros aspectos da sua vida.

Nenhuma das instituições ou indivíduos que organizam ou apenas frequentam as Marchas da Maconha acham que o uso de maconha deva ser estimulado, muito menos propagandeado ou incentivado em massa, como atualmente ocorre com o álcool e o tabaco. Somos cidadãos responsavéis e a cada dia que passa o número crescente de pessoas que apoiam nosso trabalho só ajuda a reafirmar isso. O Excelentissímo Ministro Carlos Minc apenas percebeu o que a cada dia mais instituições e indivíduos têm percebido: A humanidade convive com o uso de maconha e outras drogas há mais de 10.000 anos e isso só se tornou um problema grave após ser decretada uma Guerra de extermínio às drogas e aos seus produtores e consumidores.

O ideal de um mundo sem drogas é um fracasso reconhecido até mesmo pelos atuais membros do Conselho e da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. É exatamente isso do que se trata a Marcha da Maconha: Lembrar que as atuais leis e políticas são inspiradas num modelo fracassado e amparado por dados científicos equivocados, exigindo por isso mudanças na forma de lidar com a questão. Chamar atenção de que tratar usuários de drogas como criminosos não resolve o problema da violência e que eles não querem infringir mal a si mesmos ou aos outros, apenas querem ter seus direitos assegurados com todo cidadão. Reconhecer que alguns usam por hábito, curiosidade, busca de prazer, inclusão, outros por compulsão, mas condená-los, seja qualquer tipo de uso, à marginalização social e legal é uma violência contra os indivíduos muito maior do que qualquer uso abusivo. Denunciar que numa sociedade menos miope e violenta, já teríamos ao menos autorizado e até mesmo incentivado o debate público a respeito do tema.

Mas no Brasil, o que tem ocorrido é a articulação de grupos que se opõem não apenas à revisão das formas de tratamento dadas aos usuários, mas à realização de debates e manifestações públicas sobre as políticas e leis sobre drogas. É uma demonstração pública de organização que assusta as pessoas atualmente interessadas em cuidar prestar atenção, cuidados e informação aos usuários de drogas, ajudando-o a ter maior autonomia sobre sua existência e sobre o acesso à saúde e cidadania.

Hoje, Carlos Minc falará aos Deputados os motivos pelos quais acredita ser importante discutir a descriminalização da maconha. Será uma audiência histórica e espero que seja o início de uma série de audiências históricas sobre o tema. Tenho certeza que o Minc saberá expor muito bem os inúmeros motivos mais do que conhecidos das pessoas mais antenadas à atualidade para os nosso Excelentíssimos Deputados. Mas acredito que esse pronunciamento só poderá se tornar realmente importante se todos tivermos condições de assísti-lo. Infelizmente eu não tenho como gravar, nem como assistir. Mas como tenho fé na Era da Informação, aguardo ansioso pelo ativistas individuais que certamente gravarão as falas do Ministro e dos Deputados de alguma forma, seja na mente, nos corações, em uma blogada, ou em DVD mesmo. O importante é que esses discursos se multipliquem e que o processo de desencantamento da repressão, para usar uma expressão do saudoso Gey Espinheira, se torne ainda mais agudo, como deve ser.

Um comentário:

  1. Amigo Sérgio, a audiência com Minc foi adiada para terça-feira próxima.

    Abraço!

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