segunda-feira, 25 de junho de 2007

Ainda sobre os ataques de Reinaldo Avezedo

Carta enviada pelo pesquisador Alexandre Varella,
Observando os argumentos do Reinaldo Azevedo, do blog da Veja, contra o projeto "baladaboa", ou contra os estudos acadêmicos sobre drogas, e enfim, contra as"drogas" entre aspas, considero que se deve reagir, ou melhor, contra-atacar, mostrando que o cerne da questão é combater o "direito positivo" do proibicionismo das drogas, que coloca, por exemplo, como criminosos os consumidores e vendedores de ecstasy, e, de outro lado, como cidadãos corretos e isentos, os que consomem e vendem whisky. Reinaldo é porta-voz desse "direito" de proibir algumas drogas, e aceitar outras, as drogas que ele usa e são "legais", é claro.
Este senhor do chapéu, o "Rei", como lhe chamam os comentaristas apaixonados pelo seu português correto (de manual de jornalismo), desqualifica o consumo do ecstasy e outras drogas, em última instância, pela tautologia "tostines": as drogas são ilegais porque são ruins ou são ruins porque são ilegais? O catedrático da Veja, confuso nesse raciocínio difícil, chega à conclusão rápida de que as drogas ilícitas sustentariam o tráfico e os monstros conhecidos como"traficantes". Os crimes (o senhor Rei do jornalismo não sabe disso?), quem os cometem são as pessoas, suas intenções e loucuras, quer seja sob estado ébrio ou excitado ou alucinado, ou asséptico, no mais alto graude ascetismo que possa haver.
Mas as drogas, esses monstros assustadores... tudo acaba em caso de polícia, contra os "fora da lei" que usam drogas "ilegais". Que coisa mais boba, se não fosse pelas consequências políticas e sociais, como os assassinatos de pessoas (pela justificativa de que usam e vendem drogas) pela polícia e sua "lei"antinarco, além de outros impasses que cria, como é o cancelamento de financiamento da política de reduçãode danos ou de outras pesquisas sociais e acadêmicas.Saindo do simplismo (e efetividade) da "lei positiva", o douto em português não pode usar outro argumento por muito tempo no seu discurso (direto de direita) contra as drogas. Argumentos de saúde pública (ou privada) contra as substâncias, é ilustrativo, este senhor apenas os utiliza em breves digressões, logo abandonadas pelo parecer de que ecstasy ou cocaína é crime. Reinaldo, este acecla da Veja, sabe muito bem que o argumento contra as drogas, pelo motivo do dano à saúde (pública e privada), daria muito mais trelapara criar uma lei de proibição do álcool e do cigarro, do que para manter proibidos o ecstasy, o ácido ou a cocaína. Mas isto, é claro, não aparece emseu bom português para inglês ver.
Este senhor se incomoda mais com o cheiro da maconhaque com o do tabaco, como ele mesmo comenta. Mas hácontrovérsias. Proibamos ambos ou nenhum fumo. Senão, o que se cheira é a hipocrisia dos que estão na "lei", de convenção de senhores que cheiram a tabaco e não suportam os que cheiram a maconha. Portanto, a luta é de "classe". Onde estão tais e quais drogas? Elas projetam a luta de grupos sociais, e de indivíduos,com distintos saberes e práticas, distintos projetosexistenciais e políticos. Que viva a informação como um "direito natural". O saber usar (pela experiência e pela educação) é que faz a diferença entre o dano maior e o dano menor, ouo benefício maior ou menor no consumo das drogas. O senhor Reinaldo sabe disso quando bebe e fuma? Ele escreve seus brilhantes textos durante, antes oudepois de fumar e beber? Se fosse melhor informadopela política de redução de danos, saberia comoaproveitar mais suas drogas em relação a seu ofício.Talvez, as drogas tenham alguma influência na suamaneira livre e solta de escrever, ao pé da letra, odiscurso dos embriagados pelo poder de repressão àsdrogas (as que ele declara não usar). Ele só usa o que é legal. Que cara bacana.
O mais importante e triste, é que este senhor, ao fazer o discurso de repressão às "drogas", faz o argumento de repressão aos "drogados" e "traficantes". Seu moralismo caquético, sob as vestes do combate à "apologia das drogas", custa caro à saúde de muitas pessoas, ao contribuir para manter droga um caso de polícia. Este senhor é apologista da neurose contra as drogas. Deveria ser tratado com prozac, uma droga legal (em sentido pleno) pra ele. Também, para o bem da saúde pública.

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