Esse texto faz parte do livro Cannabis Medicinal Introdução ao Cultivo Indoor (pág. 10 a 15)
Há
 15 anos atrás, quando eu tinha 16, tive contato com a cannabis pela 
primeira vez. Ouvi de uma professora na escola uma lista de drogas na 
qual a cannabis constava junto com outras que, segundo ela, poderiam 
causar vício, danos à saúde e overdose letal. No início, como ocorre com
 a maioria das pessoas, contaram-me apenas que ela era uma droga 
perigosa. Porém, no mesmo ano li num livro da biblioteca da escola que a
 maconha não causava overdose letal e, a partir daí, passei a acreditar 
que tinha algo errado em algumas histórias que me contaram. 
Aos
 poucos descobri que tratava-se de uma planta. Uma planta que deveria 
sim ser muito respeitada, mas que sozinha não fazia mal a ninguém. Por 
conta dos meus estudos, descobri também que as flores fêmeas dessa 
planta de fato produzem uma resina muito poderosa, que a ciência moderna
 considera como droga. Descobri que essa resina tem diversas 
propriedades medicinais, conhecidas por diferentes civilizações há 
milhares de anos. E, a partir de todas essas descobertas, meus conceitos
 sobre maconha, drogas e ciência começaram então a mudar. 
Em
 2000, 5 anos depois da leitura do meu primeiro livro sobre a maconha, 
tive meu primeiro computador com acesso à internet. Mais uma vez, um 
mundo totalmente novo se abriu para mim. Comecei a conhecer a cultura do
 cultivo de cannabis que nesse momento ganhava força na rede. Em
 todo esse tempo conheci os mais diferentes tipos de pessoas que 
cultivavam cannabis medicinal para uso pessoal. Tive lições preciosas de
 pessoas que cultivavam há anos, mas também aprendi muito com pessoas 
que estavam na primeira colheita. Também encontrei pessoas que cultivam 
há muito tempo cometendo os mesmos erros de alguns iniciantes e ainda 
novatos mais íntimos com a planta do que muitos veteranos. 
Em
 toda essa jornada a maior lição que tirei é de que não existe uma 
“receita de bolo” para o cultivo de cannabis medicinal. Em outras 
palavras, todo conhecimento contido nesse e em outros livros e revistas 
especializadas, ou em sites e fóruns na internet, jamais dará conta de 
todas as situações de cultivo. Cada planta é única. Cada jardim é 
singular. Em toda minha trajetória como pesquisador encontrei mais 
dúvidas, controvérsias e questões a serem exploradas e pesquisadas com 
mais profundidade do que certezas ou consensos.
Ao
 começar a ler esse livro, você precisa também iniciar a desconstruções 
de alguns mitos. Qualquer pessoa está apta a cultivar cannabis para uso 
medicinal. Essa é uma tarefa tão ou menos complicada e trabalhosa do que
 ter um cão, gato ou um aquário, por exemplo. 
Ao
 terminar de ler esse livro perceberá que, no fundo, o maior trabalho de
 um cultivador é compreender o ritmo de vida da planta e suas 
necessidades, procurando se adequar à elas. No fim, aprenderá que a 
maior lição desse processo é cultivar em nós mesmos as virtudes da 
paciência e do olhar compreensivo, buscando entender as necessidades dos
 seres que crescem no jardim. Dedicando-se a entendê-los e respeitá-los,
 tudo caminhará bem.
Não
 espere que a planta tenha sede só na hora que puder regá-la. Ou que ela
 apresente alguma oscilação de pH apenas quando puder estar atento à 
isso. Se precisar se ausentar por alguns dias, ela não poderá parar seu 
metabolismo para esperar por cuidados. Você pode até buscar controlar ao
 máximo tais fatores, mas sempre tendo em mente que eles jamais poderão 
ser controlados totalmente. Vou repetir pois isso tem que virar seu lema
 pessoal: as necessidades das plantas seguem um ritmo próprio de vida e 
terá o jardineiro de cannabis medicinal terá que se adaptar à isso. Se 
não há tempo ou espaço na sua vida para dedicar-se ao jardim não há 
porque semear plantas que só sofrerão por falta de cuidados.
Aos
 interessados em cultivar sua própria cannabis medicinal é necessário 
que aprendam a modificar seu olhar sobre a planta. É preciso aprender a 
enxergá-la como um ser vivo que deve ser respeitado e não apenas como 
matéria-prima para obter o medicamento desejado. Só quando é tratada com
 respeito e carinho a cannabis responde com saúde, vigor e abundância.
Ao
 longo do meu envolvimento com o cultivo de cannabis medicinal sempre 
procurei adotar a postura de eterno aprendiz. Acredito que todas as 
pessoas têm coisas a aprender, se não com outros cultivadores, com suas 
próprias experiências. A convivência com a planta lhe renderá 
aprendizados diários, pois ela jamais se cansará de lhe dar lições. 
Acredito que manter-se aberto para todos essas lições é o caminho mais 
sábio.
Lembre-se que nos cultivos em estufas a planta é totalmente dependente de quem a está cultivando. Dentre outras coisas, é você que irá observar se a luz está alcançado de forma satisfatória todas as suas folhas e providenciar as mudanças necessárias. Antes disso, providenciará planejar e construir um ambiente de cultivo adequado a todas as necessidades dos vegetais. Todos os aspectos da vida num jardim indoor dependem do trabalho e dedicação do cultivador.
Aos
 aspirantes a jardineiros de cannabis medicinal cabe assumir e manter o 
compromisso com os seres vivos que se propuseram criar. Amor, carinho, 
dedicação e estudo são muito mais importantes para o cuidado das plantas
 do que fertilizantes importados ou mega investimentos em tecnologia de 
ponta para a estufa.
Todo
 conhecimento que tenho sobre a planta e seu cultivo devo não apenas à 
pesquisa bibliográfica especializada. Devo esse conhecimento 
principalmente aos muitos cultivadores experientes e iniciantes, que 
compartilharam seus conhecimentos comigo. Seria simplesmente impossível 
citar todos, mas os amigos de verdade que fiz nesse caminho sabem que é 
deles que estou falando agora. A todos vocês, meus sinceros 
agradecimentos e meus votos das melhores colheitas. 
Espero
 ter podido com esse livro somar mais uma colaboração e fortalecer a 
cultura do cultivo de cannabis medicinal para uso pessoal no Brasil. 
Agradeço a todos que direta ou indiretamente colaboraram para que esse 
livro pudesse estar em suas mãos. Como já afirmei, esse livro é dedicado
 ao amor, à amizade e à Santa Maria. Essas foram as forças que guiaram 
todo seu feitio e desejo que sejam as mesmas que guiem sua leitura.
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